Intensificado
 pela atuação da JBS e outras gigantes nesse mercado, o crescimento das 
exportações de couro tem prejudicado a disponibilidade da commodity em 
âmbito nacional. Curtumes falam em aumento de 40%, em seis meses, do 
preço da matéria-prima.
O
 mercado externo, apesar do câmbio favorável, apresenta desvalorização. 
No acumulado de janeiro a setembro, os embarques cresceram 7% em volume,
 mas perderam 2% de valor. A diferença está ligada à crescente demanda 
chinesa pelo tipo wet blue, que é o couro mais barato.
"A
 [demanda da] Europa está restrita. Não temos outro mercado que não seja
 a Ásia", diz o diretor-presidente do curtume Viposa, de Caçador (SC), 
Elias Seleme Neto. "Mas a China só quer couro inacabado, que tem pouca 
margem de lucro", acrescenta.
A
 participação da China cresceu 23% no acumulado do ano, em relação ao 
mesmo período de 2011, atingindo o nível de 23,3% das exportações 
brasileiras de peles e couro. Os totais exportados nesse período foram 
de 291,7 mil toneladas e US$ 1,5 bilhão.
Na
 contramão, as importações da Itália, que costuma comprar couro 
beneficiado do Brasil (tipo crust, por exemplo), caíram 16%, para 298,2 
mil toneladas.
O
 fator positivo para os curtumes exportadores neste ano foi o câmbio. 
"Trabalhou-se com prejuízo em 2010 e 2011", lembra Neto. "Se o dólar 
fica abaixo de R$ 2, o setor fecha no vermelho."
Matéria-prima escassa
Se
 a preocupação do curtume Viposa é com o mercado externo, a Casa de 
Couros Romeu, que atua desde o beneficiamento até o varejo, é com a 
falta de material no Brasil. Segundo o diretor-comercial da empresa, 
Rodrigo Saragioto, o couro está caro, raro e de má qualidade no País.
"Desde
 que o grupo JBS entrou forte nesse mercado, comprando todos 
frigoríficos que ofereciam couro bom, os curtumes ficaram com o que 
sobrou de matéria-prima ruim", afirma o executivo, observando alta de 
40% do valor do produto nos últimos seis meses.
Em
 resposta, um porta-voz da JBS disse que a subida de preço tem a ver com
 a baixa oferta de bois - o rebanho nacional, afetado pelos rumos do 
mercado pecuário, tem encolhido, inclusive com o descarte de matrizes -,
 não com o crescimento da companhia multinacional.
A Casa Romeu adquire seis mil peças de couro wet blue e in natura por
 mês, para trabalhá-las em sua sessão de beneficiamento e depois 
vendê-las, por atacado, para fabricantes de vestuário e acessórios. A 
matéria-prima está custando R$ 1,80 por quilo, de acordo com Saragioto.
"O
 couro já esteve mais caro. O preço, porém, subia conforme a demanda. 
Agora que o mercado está em baixa, era para o couro estar mais barato", 
diz o empresário, atribuindo a valorização atípica do produto aos 
embarques promovidos pela JBS ao exterior.
Azul molhado
Vale
 registrar que o couro wet blue ("azul molhado") - azulado pelo cromo, 
que o torna imperecível - tem status de commodity e precisa passar por 
duas outras etapas de beneficiamento antes de ficar pronto para qualquer
 tipo de manufatura. Alguns curtumes, como o A.P. Müller, em Portão 
(RS), preferem investir unicamente no acabamento da matéria-prima, não 
trabalham com o wet blue.
O
 presidente da Associação Brasileira dos Químicos e Técnicos da 
Indústria de Couro (ABQTIC), Etevaldo Zilli, aponta para novas demandas 
ambientais do segmento - como na substituição, para a curtição do couro,
 do cromo por produtos naturais.
  Fonte: Diário do Comércio e Indústria
Publicado no Aduaneiras