Há
40 anos, em 1972, a Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB)
organizava o primeiro Enaex. A sigla, que, inicialmente, se referia a
evento em que se reuniam empresários e governo para tratar de temas
ligados às exportações do País, mais tarde viria a designar o Encontro
Nacional de Comércio Exterior, congregando representantes dos diversos
segmentos partícipes de operações comerciais de exportação e de
importação, de bens e de serviços, entre o Brasil e o resto do mundo.
Desde
então, o Enaex, que este ano acontece nos dias 27 e 28 de setembro, no
Porto do Rio de Janeiro, se fortalece como evento-marco único, de
abrangência nacional e internacional, indelevelmente inscrito no
calendário do comércio exterior brasileiro, a figurar nas agendas de
empresas e governo, tornando-se caixa de ressonância do segmento
comercial externo da economia, síntese da missão da Associação de
Comércio Exterior do Brasil em prol do aprimoramento da presença do
Brasil no mercado internacional.
Seguindo
características originais, o Enaex vem proporcionando debates
construtivos sobre temas e políticas de interesse do comércio exterior,
além do exame de ações específicas junto a representantes do alto
escalão do governo, sempre presentes aos encontros, em apoio aos
integrantes da comunidade de comércio exterior, produzindo sugestões,
invariavelmente de caráter propositivo, para solução de entraves e
criação de instrumentos para melhorar a dinâmica do processo comercial
externo e elevar a competitividade, mirando a crescente expressão,
quantitativa, qualitativa e sustentável, da participação brasileira no
comércio mundial.
Ao
longo do período em que se realizaram as 30 edições do Enaex, muito se
modificaram os cenários, externo e doméstico, contabilizando-se, no
Brasil, saldos positivos de conquistas, de efeitos benéficos sobre o
comércio externo do País, desde o contínuo trabalho da
Embrapa
em prol do fortalecimento do setor agrícola nacional e o empenho do
setor industrial, até o alcance da estabilização da economia, a
implantação da disciplina fiscal, o processo de inserção internacional e
esforço de abertura da economia e a modernização da legislação cambial,
avanços consolidados e prosseguidos, até aqui, por sucessivos governos
brasileiros.
Embora
marcado, nos últimos anos, por taxas de crescimento abaixo do seu
potencial e da necessária sustentável geração de emprego e renda, o País
evoluiu, com o PIB brasileiro colocando-se entre os seis maiores do
mundo.
A
maior inserção internacional da economia e a evolução do PIB
brasileiro, aliados ao crescimento do comércio global, permitiram ao
comércio externo do Brasil evoluir dos US$ 4 bilhões de exportação e US$
4,2 bilhões de importação, em 1972, ano do primeiro Enaex, aos US$ 256
bilhões e US$ 237 bilhões, respectivamente, em 2011. O grau de abertura
da economia de 14%, em 1972, aproximou-se de 20%, no ano passado, o que
ainda não indica tendência sustentável, pois está abaixo do patamar
registrado em 2002 e até de anos anteriores à década de 1990. A
participação brasileira nas exportações mundiais continua baixa,
vis-à-vis a expressão da economia brasileira, aproximando-se de 1,5%, em
2011, o mesmo acontecendo do lado das importações.
No
saldo da balança comercial, está a mais visível contribuição positiva
do comércio externo do País, com superávit acumulado de US$ 306,2
bilhões, entre 2001 e 2011, após déficit acumulado de US$ 24,5 bilhões,
entre 1995 e 2000. Antes, entre 1984 e 1994, a balança comercial teve
superávit acumulado de US$ 140,8 bilhões.
A boa performance
do valor das exportações brasileiras, todavia, não foi superior à de
outros países em desenvolvimento, que, quando do Enaex de número um,
exportavam menos que o Brasil. Em 1972, China exportava US$ 3,7 bilhões,
contra os US$ 4 bilhões do Brasil, enquanto México e Coreia, menos da
metade, e Índia, um pouco mais da metade; em 1982, as exportações
chinesas, coreanas e mexicanas já ultrapassavam as dos brasileiros; em
2011, todos exportaram acima dos US$ 256 bilhões do Brasil, sendo que o
fenômeno China, 7,4 vezes mais, e a Coreia, pouco mais que o dobro.
Ademais,
a radiografia das exportações brasileiras mostra que - à parte o avanço
de seus montantes e a construção de saldos comerciais positivos -
continuam faltando ações efetivas do governo que induzam mudanças
estruturais no comércio exterior brasileiro, tanto do ponto de vista da
composição da pauta de exportação, quanto do ângulo das concentrações
que a caracterizam.
Quanto
à pauta, é conhecida a preocupação relativa ao acentuado recuo da
participação dos produtos manufaturados no valor das exportações
brasileiras. Nesse quesito, também não é favorável ao Brasil o
comparativo com os quatro países referidos, como mostram os quadros
seguintes.
Duas
outras concentrações marcam as exportações brasileiras: o peso de
poucas empresas na composição do valor exportado e o mesmo com relação
ao destino das exportações. Esse quadro, praticamente, não se modificou,
ao longo do período de quatro décadas de Enaex.
Quanto
às empresas exportadoras, as 250 principais participaram, em anos
selecionados, com os seguintes percentuais dos totais exportados pelo
Brasil: 67,5% (1988), 60,55% (2001), 65,23% (2007) e 78,78% (2011).
No
que concerne ao destino das exportações brasileiras, Estados Unidos,
Argentina, Países Baixos (Holanda), Japão e Alemanha participaram com
46,74% (1988), 46,45% (1992), 45,59% (2001) e 41,25% (2007). Em 2011,
nos cinco maiores destinos das exportações não aparece a Alemanha,
estando incluída em seu lugar a China, que passou a ser, desde 2009, a
maior importadora de produtos brasileiros (essencialmente commodities).
Em 2011, os cinco principais destinos absorveram 45,29% do total das
exportações.
Também
não é satisfatório o panorama da evolução dos produtos industriais de
exportação, segundo a intensidade tecnológica neles contida. Em 1996, os
produtos de alta tecnologia representavam apenas 4,3% dos valores
exportados. Essa participação chegou a subir para 12,4%, em 2000, com
destaque para os produtos da indústria aeronáutica e aeroespacial,
equipamentos de rádio, TV e comunicação, mas voltou a descer para 4,6%,
em 2010. Na ponta oposta, reduziu-se a participação dos bens de baixa
tecnologia, caindo de 36% para 26,4%, no comparativo 1996-2010. Ou seja,
os setores industriais de exportação perdem participação no total das
exportações brasileiras e mantêm-se concentrados em itens de média
intensidade tecnológica.
Como
se nota, estruturalmente, não se modificou, no período, o quadro do
comércio exterior brasileiro. A propósito, Benedicto Fonseca Moreira,
presidente (licenciado) da AEB, palestrando no primeiro Enaex, em 1972,
na condição de diretor da Cacex, do Banco do Brasil, assim relembrava os
principais obstáculos que se opunham à expansão das exportações: "taxa
de câmbio sobrevalorizada; excesso de carga tributária; ausência de
sistema de financiamento; desorganização do setor portuário e de
navegação; máquina administrativa desatualizada; e intervenção de
excessivo número de órgãos governamentais...".
Atualmente,
esses fatores estão ainda mais ampliados, em razão do crescimento
quantitativo do comércio exterior brasileiro, com os diferentes atores
brasileiros envolvidos nas atividades de exportação, tanto na
comercialização como na produção, ambas afetadas pelo pesado
custo-Brasil, continuando a enfrentar as mesmas dificuldades, mantendo o
Brasil refém de custos ociosos, que contribuem para a baixa
competitividade internacional da economia brasileira.
Com
esse propósito, ao definir o tema "Propostas para um Comércio Exterior
Sustentável" para o Enaex 2012, a AEB objetiva discutir alternativas
para oferecer uma carta de alforria ao comércio exterior brasileiro,
especialmente às exportações, objetivando elevar a participação de
produtos manufaturados na pauta de exportação e gerar equilíbrio,
reduzir a dependência do bom humor econômico externo e ampliar os
reflexos por decisões tomadas no Brasil.
Autor(a): JOSÉ AUGUSTO DE CASTRO
Presidente, em exercício, da AEB.
Presidente, em exercício, da AEB.
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