A China voltou a soltar o breque do Bric.
A segunda maior economia do mundo vem dando sinais de estar
retomando o crescimento - o que começa a contagiar mercados no restante
do Bric, o bloco informal ao qual pertencem ainda Brasil, Rússia e
Índia. Certos investidores já apostam que esses países vão colher
benefícios econômicos consideráveis graças ao repique do crescimento na
China, pois os laços comerciais no grupo são estreitos.
Segunda-feira, a China anunciou que o superávit na balança comercial
do país subiu no mês passado, quando o crescimento das exportações
acelerou.
"As notícias recebidas ultimamente da China são boas, pois melhoram a
perspectiva para esses países", diz Marcelo Assalin, diretor de dívida
soberana de mercados emergentes da ING Investment Management, que
administra um total de US$ 377 bilhões em ativos.
Puxados pela crescente procura por ações e títulos de dívida
chineses, mercados do Bric têm ficado à frente de outras economias
emergentes. Nos últimos três meses, até sexta-feira passada, o índice
MSCI Bric avançou 5,8%; um índice mais amplo de mercados emergentes, o
MSCI EM, deu retorno de 4,9% no período. Os dois índices são do mercado
acionário.
Embora o mercado de títulos de dívida não tenha um grande índice
exclusivamente para o Bric, investidores vêm despejando recursos em
fundos de renda fixa focados no bloco. Até 7 de novembro, esses fundos
registravam cinco semanas seguidas em que tiveram mais investimentos do
que saques, a primeira vez no ano em que isso ocorreu. De setembro
para cá, investidores aplicaram mais US$ 40,64 milhões nesses fundos,
segundo a firma EPFR Global.
Nos primeiros oito meses do ano, os fundos registraram saída líquida de US$ 217,5 milhões.
Segundo investidores, títulos de dívida no Brasil e na Rússia, ações
de empresas da China e da Índia, a rúpia indiana e o rublo russo são
investimentos particularmente bons no momento.
Assalin aumentou em agosto a exposição a títulos de dívida na moeda
russa, cujo rendimento chega a 8% em papéis com vencimento em 15 anos.
Assalin espera um salto na procura pelos títulos quando estes passarem a
ser processados pelo sistema de compensação internacional Euroclear.
A simplificação da liquidação desses títulos é o mais recente sinal
de que investidores continuam a botar fé na Rússia, apesar do forte
papel do Estado na economia. Em 2003, agências de classificação de
risco deram o grau de investimento ao país; ou seja, o risco de
moratória é considerado baixo.
"Em que outro lugar do mundo é possível investir em um título com
grau de investimento, alto rendimento e moeda em alta?", pergunta
Assalin. O rublo vem sendo negociado a 31,62 rublos por dólar; é 7,5% a
mais do que o piso registrado em junho.
Até o começo deste ano, os países do Bric tinham sido o verdadeiro
xodó de muitos investidores em mercados emergentes. O vento favorável
vinha desde 2003, quando Jim O"Neill, presidente da Goldman Sachs Asset
Management, cunhou o termo. Na última década, esses países cresceram
bastante, o que atraiu mais investidores tradicionais para mercados
emergentes.
No início de 2012, no entanto, a nuvem de pessimismo que paira sobre
o crescimento mundial chegou ao grupo. Agora, certos investidores
dizem que estão peneirando ativos em busca de papéis baratos e
rendimentos mais altos do que os oferecidos em mercados desenvolvidos.
Ao mesmo tempo, muitos consideram países do Bric como uma alternativa
mais segura a mercados emergentes menores, como a Indonésia.
Países do Bric continuam vulneráveis à retirada em massa de
investidores, que ainda estão fugindo de riscos. Certos investidores
dizem que os ganhos recentes podem evaporar rapidamente com a
aproximação do prazo final para que os Estados Unidos evitem o "abismo
fiscal" de aumentos de impostos e cortes no orçamento.
Diante do risco, não faz sentido para o investidor se concentrar
demais em países do Bric, diz Gustavo Galindo, gestor de fundos em
mercados emergentes que administra uma carteira de US$ 12 bilhões na
Russell Investments. Segundo ele, investidores têm mostrado cada vez
mais apetite por mercados como México e Turquia, que não são do Bric,
mas também dão rendimento elevado.
"Já está constatado que os países do Bric nem sempre são o lugar
certo para investir", pois seu ritmo de crescimento é superado pelo de
mercados emergentes menores, diz Galindo. A economia russa, por
exemplo, cresceu apenas 2,9% no terceiro trimestre, contra os 4% do
trimestre anterior.
Segundo certos investidores, mercados do bloco parecem uma pechincha após o fraco desempenho durante boa parte de 2012.
Morgan Harting, gerente sênior de portfólio da gestora de recursos
AllianceBernstein Holding LP, que administra cerca de US$ 420 bilhões em
investimentos, diz que a combinação de crescimento mais acelerado na
China com o compromisso do banco central americano de injetar dinheiro
na economia torna improvável um novo revés nos países do Bric tão cedo.
Autor(es): Por Prabha Natarajan | The Wall Street Journal Valor Econômico - 14/11/2012
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