quinta-feira, 22 de novembro de 2012

O combate da exportação


Tratando-se de conquistar novos mercados e, independentemente do valor e diferenciação dos produtos ou serviços propostos, é difícil ter-se sucesso, na maioria dos casos, sem um enorme esforço no binómio preço e condições de venda.



Os efeitos na economia, em particular nas exportações, da já longa e muito penalizante greve dos trabalhadores portuários não nos deve destrair da dificuldade mais intensa com que as empresas portuguesas se debatem nas vendas ao exterior.

Há sinais claros de persistência das dificuldades que o ambiente económico internacional vai acentuando as suas cores de cinzento. Vejamos as recentes previsões de Outono da Comissão Europeia para a Europa em 2013, um crescimento anémico de 0.1% para a zona euro, justamente para onde Portugal canaliza mais de 70% das suas exportações. Dir-se-á que em 2012 o crescimento deverá ainda ser mais fraco, em rigor, uma contracção de 0.1%, e nem por isso o crescimento das exportações nacionais deixou de se verificar. O problema é que que cada novo delta de crescimento custa marginalmente mais, em termos de penetração de mercados e das próprias condições internas de produção. Nos últimos anos assistiu-se, em muitas empresas, ao aproveitamento de capacidade instalada ociosa, decorrente da grande quebra no mercado interno que, tendencialmente, foi canalizada para o exterior a preços de combate, perante a alternativa de simplesmente não se vender.

Acresce que nem sempre se tem a percepção do que significa exportar para as empresas que antes operavam predominantemente no mercado nacional. Tratando-se de conquistar novos mercados e, independentemente do valor e diferenciação dos produtos ou serviços propostos, é difícil ter-se sucesso, na maioria dos casos, sem um enorme esforço no binómio preço e condições de venda. E ter aquele binómio competitivo, significa seguramente vendas com margens baixas e condições de venda, leia-se crédito, apelativas. Nestas condições e numa primeira vaga o efeito exportação não irá gerar grande rendibilidade, eventualmente mobilizará necessidades de tesouraria adicionais e potenciará o risco de crédito associado a mercados e clientes que se conhecem mal.

E num segundo momento, para os casos mais bem sucedidos de penetração externa, coloca-se a questão de se sustentar o crescimento com capacidade de investimento, nomeadamente visando ganhar competitividade acrescida que possibilite ao mesmo tempo melhorar margens e resultados. E essa necessidade de investimento choca com duas realidades difíceis de ultrapassar. Por um lado bons níveis de autofinanciamento que mitiguem a insuficências da capital fresco adicional e por outro disponibilidade de crédito ao investimento, que se sabe estar longe das prioridades da banca comercial. Pelo meio fica a possibilidade de reforço dos capitais próprios através de novos sócios/accionistas mas que esbarra na nossa dificuldade cultural de partilha de poder e, também, reconheça-se, na abertura do capital numa conjuntura de evidente depreciação do valor das empresas.

O apoio à diversificação de mercados, à subida na cadeia de valor e ao financiamento empresarial continuarão a ser, assim, necessidades imperiosas de uma política que atente na recuperação da economia.

António Gomes Mota, Professor na ISCTE Business School

Publicado no Jornal Economico


Nenhum comentário:

Postar um comentário