sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Chile: 6% ao ano até 2018



Nuno Martins, senior manager de Transactions da PwCNuno Martins, senior manager de Transactions da PwC, analisa os fatores que fazem deste país da América Latina um potencial de oportunidades.

A ditadura de Pinochet (1973-90) foi estruturante nas escolhas económicas e sociais contemporâneas da República do Chile - influenciada que foi pela "escola de Chicago", através de estudantes chilenos alunos do liberal e prémio Nobel Milton Friedman. Antevêem-se oportunidades.

O Chile tem uma população de 17,4 milhões e um PIB per capita de 17,2 mil  dólares (cerca de 13,2 mil euros), colocando-o como a quinta maior economia da América do Sul, a seguir ao Brasil, Argentina, Colômbia e Venezuela.

Na década de 90, o PIB cresceu a uma média de 6,4%, abrandando para 3,7% na primeira década do século. O Chile é o maior exportador mundial de cobre - representa 20% do PIB, 50% das exportações e cerca de 200 mil empregos no país - muito embora os preços sejam determinados nos mercados internacionais.

O estado das finanças públicas chilenas é invejável. A dívida soberana não ultrapassa 10% do PIB, classificada com um rating de A+ (S&P e Fitch)/Aa3 (Moody's), superior a países como Israel e Coreia do Sul.

À luz de comparações internacionais, as instituições funcionam: o índice de perceção de corrupção da "Transparency International" classifica o Chile em 22.º lugar (acima dos EUA) e o índice de liberdade económica da "Heritage Foundation" em 11.º (acima do Reino Unido). Em 2010, o Chile foi admitido no "exclusivo clube" da OCDE.

Quando analisamos a estrutura produtiva e de comércio externo, verificamos um elevado nível de abertura. As exportações ascendem a 80 mil milhões de dólares (os minerais representam 55 mil milhões de dólares) e a importações cerca de  66 mil milhões de dólares (16 mil milhões são petróleo e gás natural). Não admira, portanto, que os principais mercados de exportação sejam a China (22%), Japão (11%) e EUA (10%), principais alarves mundiais de recursos naturais.

A economia chilena apresenta boas oportunidades para as empresas portuguesas, por via de exportações ou de investimento direto estrangeiro. A exploração do mercado interno, cujo consumo representa mais de 50% do PIB e se encontra em crescimento (com consumidores ávidos, o nível de endividamento das famílias atinge 70%, em parte em resultado de pressões sociais), e a possibilidade de capturar valor dos recursos naturais irreplicáveis, são a ideia chave comum aos investidores externos.

As principais apostas deverão focalizar-se nas indústrias alimentares (vinha, olival, frutas, carnes, pescas, nomeadamente salmão), energia (dada a elevada vocação para energias renováveis, em resultado da dependência de vizinhos nem sempre amistosos) e infraestruturas (atualmente encontra-se em concurso, para construção e operação, um portfolio de infraestruturas no valor de 8 mil milhões de dólares), embora não se esgotando nestas.

Mas há riscos. Evitar o "middle income trap" é crítico. As reformas da economia estão maioritariamente concluídas, no entanto, as desigualdades sociais persistem. Metade da riqueza da economia é, ainda hoje, apropriada pelos 20% mais ricos, em parte consequência de um sistema de educação a duas velocidades. Os estudantes que frequentam escolas de menor qualidade provêm das 60% famílias de mais baixos rendimentos e, o que é pior, os estudantes que frequentam as escolas secundárias públicas têm piores resultados nos exames de acesso ao ensino superior, o que perpetua a desigualdade e restringe a formação de capital humano. Não surpreende que os estudantes saiam à rua.

Mas o rasgo de inovação da economia é indelével: o governo iniciou um programa de empreendedorismo em 2008, através do qual subsidia "start-ups" até 40 mil dólares, a fundo perdido e independentemente da nacionalidade do empreendedor.

O Presidente do Chile, Sebastian Piñera, educado em Harvard, empreendedor, empresário com uma imensa fortuna, estabeleceu como meta colocar o Chile no clube dos "países desenvolvidos" em 2018. Tal objetivo tem implícito um crescimento de 6% ao ano, se assumirmos Portugal como comparativo.
Uma taxa de crescimento elevadíssima, nas atuais condições da economia mundial, e ... um potencial de oportunidades.
 

Publicado em Oje

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