Com patrimônio de US$561 bilhões, Fundo de Petróleo da Noruega elege economia brasileira como prioridade, apesar do baixo ritmo de crescimento. Meta é investir em concessões de portos, rodovias e ferrovias.
A descoberta de grandes reservas de petróleo transformou a Noruega
de país bucólico, com população de estilo de vida simples e apegada à
natureza, em agressivo investidor internacional. Parte das receitas
advindas da exploração dessa riqueza, sobretudo impostos pagos pelas
empresas do setor e taxas de licenciamento, formam um fundo de pensão
que acumula patrimônio de US$ 561 bilhões, quase um quarto do Produto
Interno Bruto (PIB) do Brasil.
Por lei, a totalidade desse dinheiro deve ser aplicada em outros países, com foco em áreas estratégicas para as empresas norueguesas, que podem não ser grandes em tamanho, mas são detentoras de tecnologia de ponta em áreas como as de petróleo e construção naval. Pequena territorialmente e com menos de seis milhões de habitantes, a Noruega não tem e nunca terá uma economia com escala suficiente para absorver tal magnitude de recursos. Na verdade, nem mesmo parte deles. Não à toa, a estratégia dos noruegueses é crescer para fora. É marcar terreno, principalmente em países emergentes como o Brasil. Essa postura se fortaleceu diante dos graves problemas enfrentados pelas economias consideradas locomotivas do crescimento mundial, como as norte-americana e europeia. A meta é não repetir 2008, quando, em função da crise global, o Fundo de Petróleo amargou prejuízos de US$ 90 bilhões.
De olho nas oportunidades oferecidas pelo Brasil, a despeito do baixo ritmo da atividade, representantes do Banco da Noruega(NBIM), que administram o fundo, desembarcam em Brasília no próximo dia 10, com uma agenda lotada de encontros pelos gabinetes da Esplanada dos Ministérios. É o que informa Turid Rodrigues Eusébio, que, até a última sexta-feira, ocupava o cargo de embaixadora norueguesa no país. “Quere moster uma boa visão, de mais longo prazo, das reais intenções do governo e do empresariado brasileiros”, diz. Da capital, eles seguirão para o Rio de Janeiro, onde um bom número de empresas norueguesas operam, principalmente, com a Petrobras.
Bacalhau
Turid ressalta que uma de suas últimas tarefas como embaixadora no país foi contribuir na organização da agenda dos representantes do Banco da Noruega em um momento particularmente oportuno, no qual a presidente Dilma Rousseff anuncia pacotes de privatizações para atrair capital privado, inclusive internacional. Já foram concedidos trechos de rodovias e ferrovias e, até o fim do mês, devem ser leiloados portos e aeroportos. Os europeus querem deixar claro que não só exportam bacalhau e papel jornal para o Brasil, mas aumentam rapidamente seus investimentos aqui, inclusive por meio de participações acionárias em grandes bancos. Na avaliação da ex-embaixadora, o governo brasileiro deu boas respostas à crise internacional em 2008 e 2009. Mas, depois, patinou na tomada de decisões estruturais relevantes, com consequências negativas para a performance do setor industrial, derivada de gargalos na infraestrutura e educação. Ela tem recebido constantes relatos de empresas norueguesas sobre a dificuldade de contratação local de engenheiros e especialistas nas mais variadas áreas da construção naval. A seu ver, as duas fases do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC 1 ePAC 2) demoram a sair do papel.
“Agora, felizmente, veio o pacote de privatizações, que representa um novo alento aos empresários brasileiros e aos investidores internacionais”, afirma. O baixo nível de crescimento do país neste momento —n os primeiros seis meses do ano, o PIB avançou minguado 0,6% — não assusta Turid. “O Brasil é um país que reage bem sob pressão, em momentos decisivos. Já mostrou que sabe executar grandes obras e projetos. E há pelo menos duas pressões no horizonte mais imediato, a Copado Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016”, acrescenta. E mais: “Os resultados do setor industrial (que, no segundo trimestre, encolheu 2,5%, o pior desempenho em três anos) evidenciam estrangulamentos que precisam ser imediatamente sanados, como o déficit operacional dos portos. “No de Santos, navios esperam pelo menos 30 dias para serem descarregados. Isso representa um custo que o país não suporta mais”, ressalta. A embaixadora mostra-se confiante quanto à política de controle da inflação, que se mantém distante do centro da meta perseguida pelo Banco Central, de 4,5% ao ano. “Tenho certeza de que a presidenta Dilma e o ministro da Fazenda, Guido Mantega, não deixarão nada sair dos trilhos”, diz. “Sinto que há um entendimento dentro e fora do governo de que ninguém quer mais passar por coisas como a hiperinflação.”
A ambição dos noruegueses pelo Brasil é evidente. Tanto que o Fundo de Petróleo já investiu US$ 5,5 bilhões no país por meio de participações acionárias em aproximadamente 100 empresas. O fundo, que deve servir de modelo para o governo brasileiro quando o óleo do pré-sal estiver sendo produzido a pleno vapor, foi criado em 1990 como ferramenta de gestão de longo prazo da política fiscal da Noruega. Seu capital é investido no exterior, para evitar o superaquecimento da economia norueguesa, protegendo-a dos efeitos decorrentes da flutuação do mercado petrolífero.
Ex-embaixadora da Noruega no país, Turid Rodrigues Eusébio alerta que não se deve deslumbrar com a riqueza oriunda do petróleo. Os recursos devem ser direcionados, sobretudo, para melhorara condição de vida da população, especialmente por meio da educação e da saúde. Justamente por ter uma visão clara do tema que o país europeu é apontado hoje, por todas as pesquisas, como uma das nações com melhor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do planeta. Turid, que deixou o cargo na última sexta-feira, retornará para Oslo, a capital da Noruega, para novas tarefas no Ministério das Relações Exteriores. Antes, terá um mês de férias, para desfrutar da família. Sua sucessora, Aud Marit Wiig, apresentará as credenciais neste mês à presidente Dilma Rousseff. (CF)
Publicado no site Oficial da Noruega no Brasil
Por lei, a totalidade desse dinheiro deve ser aplicada em outros países, com foco em áreas estratégicas para as empresas norueguesas, que podem não ser grandes em tamanho, mas são detentoras de tecnologia de ponta em áreas como as de petróleo e construção naval. Pequena territorialmente e com menos de seis milhões de habitantes, a Noruega não tem e nunca terá uma economia com escala suficiente para absorver tal magnitude de recursos. Na verdade, nem mesmo parte deles. Não à toa, a estratégia dos noruegueses é crescer para fora. É marcar terreno, principalmente em países emergentes como o Brasil. Essa postura se fortaleceu diante dos graves problemas enfrentados pelas economias consideradas locomotivas do crescimento mundial, como as norte-americana e europeia. A meta é não repetir 2008, quando, em função da crise global, o Fundo de Petróleo amargou prejuízos de US$ 90 bilhões.
De olho nas oportunidades oferecidas pelo Brasil, a despeito do baixo ritmo da atividade, representantes do Banco da Noruega(NBIM), que administram o fundo, desembarcam em Brasília no próximo dia 10, com uma agenda lotada de encontros pelos gabinetes da Esplanada dos Ministérios. É o que informa Turid Rodrigues Eusébio, que, até a última sexta-feira, ocupava o cargo de embaixadora norueguesa no país. “Quere moster uma boa visão, de mais longo prazo, das reais intenções do governo e do empresariado brasileiros”, diz. Da capital, eles seguirão para o Rio de Janeiro, onde um bom número de empresas norueguesas operam, principalmente, com a Petrobras.
Bacalhau
Turid ressalta que uma de suas últimas tarefas como embaixadora no país foi contribuir na organização da agenda dos representantes do Banco da Noruega em um momento particularmente oportuno, no qual a presidente Dilma Rousseff anuncia pacotes de privatizações para atrair capital privado, inclusive internacional. Já foram concedidos trechos de rodovias e ferrovias e, até o fim do mês, devem ser leiloados portos e aeroportos. Os europeus querem deixar claro que não só exportam bacalhau e papel jornal para o Brasil, mas aumentam rapidamente seus investimentos aqui, inclusive por meio de participações acionárias em grandes bancos. Na avaliação da ex-embaixadora, o governo brasileiro deu boas respostas à crise internacional em 2008 e 2009. Mas, depois, patinou na tomada de decisões estruturais relevantes, com consequências negativas para a performance do setor industrial, derivada de gargalos na infraestrutura e educação. Ela tem recebido constantes relatos de empresas norueguesas sobre a dificuldade de contratação local de engenheiros e especialistas nas mais variadas áreas da construção naval. A seu ver, as duas fases do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC 1 ePAC 2) demoram a sair do papel.
“Agora, felizmente, veio o pacote de privatizações, que representa um novo alento aos empresários brasileiros e aos investidores internacionais”, afirma. O baixo nível de crescimento do país neste momento —n os primeiros seis meses do ano, o PIB avançou minguado 0,6% — não assusta Turid. “O Brasil é um país que reage bem sob pressão, em momentos decisivos. Já mostrou que sabe executar grandes obras e projetos. E há pelo menos duas pressões no horizonte mais imediato, a Copado Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016”, acrescenta. E mais: “Os resultados do setor industrial (que, no segundo trimestre, encolheu 2,5%, o pior desempenho em três anos) evidenciam estrangulamentos que precisam ser imediatamente sanados, como o déficit operacional dos portos. “No de Santos, navios esperam pelo menos 30 dias para serem descarregados. Isso representa um custo que o país não suporta mais”, ressalta. A embaixadora mostra-se confiante quanto à política de controle da inflação, que se mantém distante do centro da meta perseguida pelo Banco Central, de 4,5% ao ano. “Tenho certeza de que a presidenta Dilma e o ministro da Fazenda, Guido Mantega, não deixarão nada sair dos trilhos”, diz. “Sinto que há um entendimento dentro e fora do governo de que ninguém quer mais passar por coisas como a hiperinflação.”
A ambição dos noruegueses pelo Brasil é evidente. Tanto que o Fundo de Petróleo já investiu US$ 5,5 bilhões no país por meio de participações acionárias em aproximadamente 100 empresas. O fundo, que deve servir de modelo para o governo brasileiro quando o óleo do pré-sal estiver sendo produzido a pleno vapor, foi criado em 1990 como ferramenta de gestão de longo prazo da política fiscal da Noruega. Seu capital é investido no exterior, para evitar o superaquecimento da economia norueguesa, protegendo-a dos efeitos decorrentes da flutuação do mercado petrolífero.
Ex-embaixadora da Noruega no país, Turid Rodrigues Eusébio alerta que não se deve deslumbrar com a riqueza oriunda do petróleo. Os recursos devem ser direcionados, sobretudo, para melhorara condição de vida da população, especialmente por meio da educação e da saúde. Justamente por ter uma visão clara do tema que o país europeu é apontado hoje, por todas as pesquisas, como uma das nações com melhor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do planeta. Turid, que deixou o cargo na última sexta-feira, retornará para Oslo, a capital da Noruega, para novas tarefas no Ministério das Relações Exteriores. Antes, terá um mês de férias, para desfrutar da família. Sua sucessora, Aud Marit Wiig, apresentará as credenciais neste mês à presidente Dilma Rousseff. (CF)
Publicado no site Oficial da Noruega no Brasil
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