O Irã, uma potência do petróleo que deseja se tornar uma potência nuclear, virou uma potência do gás natural.
Com as segundas maiores reservas do mundo, depois da Rússia, o Irã se
tornou em 2011 o líder mundial em veículos movidos a gás natural, com
cerca de 2,9 milhões em circulação, superando por pouco o Paquistão.
A dependência do Irã nesse combustível fóssil, que é mais "limpo", não
deverá diminuir enquanto as sanções internacionais continuarem
reprimindo o programa nuclear do país, o que, por sua vez, conteve as
importações de gasolina. Apesar de o Irã ter grandes reservas de
petróleo, sua capacidade de refinar gasolina fica aquém de suas
necessidades.
Mas, para os motoristas iranianos comuns, o gás natural é menos uma
questão geopolítica ou ambiental do que uma preocupação com o bolso.
"Esse tipo de combustível é barato e me leva para casa todos os dias",
disse Sasan Ahmadi, 42, assistente de escritório, que abastecia seu
carro em um posto de gás natural.
O governo iraniano começou a promover o gás natural há uma década. Um
dos principais motivos para o movimento foi a espessa camada de poluição
que passou a cobrir a região de Teerã, consequência do aumento das
vendas de carros pelos fabricantes domésticos, que decolaram quando a
receita do petróleo começou a aumentar acentuadamente, há cerca de 15
anos, enriquecendo dezenas de milhões de iranianos.
Para enfrentar a poluição, os planejadores do governo encontraram uma
resposta no gás natural. "Nós já tínhamos uma rede de gasodutos por todo
o país", disse Reza Hajj Hosseini, porta-voz da Companhia Iraniana de
Refinaria e Distribuição de Combustível, uma subsidiária da companhia de
petróleo estatal.
Como meio de contrabalançar a pressão econômica externa, a utilidade do
gás natural é clara. Por causa do investimento inadequado em refinarias
de petróleo, o Irã há muito tempo é obrigado a refinar parte de seu óleo
cru na Europa para atender à demanda interna de gasolina. Por isso,
quando a União Europeia proibiu, em julho, as vendas de gasolina para
esse país, o gás natural ajudou a amortecer o golpe.
Motoristas como Ahmadi podem fazer seu percurso pelo equivalente a menos
de um centavo de dólar por quilômetro rodado, usando o combustível
alternativo por preços subsidiados. A gasolina é mais cara,
especialmente porque os subsídios do governo foram reduzidos, mas ainda é
incrivelmente barata pelos padrões ocidentais: menos de US$ 1 por
quatro litros.
Em torno de 40% da frota de veículos iraniana está adaptada para o gás
natural. Mas o planejamento de longo prazo foi desigual, especialmente
em relação aos postos de abastecimento. Às vezes, a fila de um posto de
gás natural tem um tempo mínimo de espera de duas horas.
O Irã tem 1.262 veículos por posto de abastecimento, comparados com 856
veículos por posto no Paquistão, o segundo país em número de veículos
movidos a gás natural, de acordo com um relatório da revista "The
Economist" de julho.
Reza Zandi, especialista em petróleo e gás, culpa o mau planejamento da
cadeia de fornecimento de gás natural. "A construção de postos de gás
natural está atrasada e não temos o know-how para construir motores mais
eficientes para os carros de fabricação nacional."
Hamid-Reza Samadian, estudante de informática, estava em uma das
principais avenidas de Teerã e observava os carros parados em um
cruzamento próximo, soltando fumaça. "Se não tivéssemos o gás natural,
acho que a poluição seria muito pior."
THOMAS ERDBRINK
DO "NEW YORK TIMES"
Publicado no Folha Uol
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