sexta-feira, 9 de novembro de 2012

40% dos carros iranianos são adaptados para o uso de gás natural


O Irã, uma potência do petróleo que deseja se tornar uma potência nuclear, virou uma potência do gás natural. 

Com as segundas maiores reservas do mundo, depois da Rússia, o Irã se tornou em 2011 o líder mundial em veículos movidos a gás natural, com cerca de 2,9 milhões em circulação, superando por pouco o Paquistão. 

A dependência do Irã nesse combustível fóssil, que é mais "limpo", não deverá diminuir enquanto as sanções internacionais continuarem reprimindo o programa nuclear do país, o que, por sua vez, conteve as importações de gasolina. Apesar de o Irã ter grandes reservas de petróleo, sua capacidade de refinar gasolina fica aquém de suas necessidades. 

Mas, para os motoristas iranianos comuns, o gás natural é menos uma questão geopolítica ou ambiental do que uma preocupação com o bolso. "Esse tipo de combustível é barato e me leva para casa todos os dias", disse Sasan Ahmadi, 42, assistente de escritório, que abastecia seu carro em um posto de gás natural. 

O governo iraniano começou a promover o gás natural há uma década. Um dos principais motivos para o movimento foi a espessa camada de poluição que passou a cobrir a região de Teerã, consequência do aumento das vendas de carros pelos fabricantes domésticos, que decolaram quando a receita do petróleo começou a aumentar acentuadamente, há cerca de 15 anos, enriquecendo dezenas de milhões de iranianos. 

Para enfrentar a poluição, os planejadores do governo encontraram uma resposta no gás natural. "Nós já tínhamos uma rede de gasodutos por todo o país", disse Reza Hajj Hosseini, porta-voz da Companhia Iraniana de Refinaria e Distribuição de Combustível, uma subsidiária da companhia de petróleo estatal. 

Como meio de contrabalançar a pressão econômica externa, a utilidade do gás natural é clara. Por causa do investimento inadequado em refinarias de petróleo, o Irã há muito tempo é obrigado a refinar parte de seu óleo cru na Europa para atender à demanda interna de gasolina. Por isso, quando a União Europeia proibiu, em julho, as vendas de gasolina para esse país, o gás natural ajudou a amortecer o golpe.
Motoristas como Ahmadi podem fazer seu percurso pelo equivalente a menos de um centavo de dólar por quilômetro rodado, usando o combustível alternativo por preços subsidiados. A gasolina é mais cara, especialmente porque os subsídios do governo foram reduzidos, mas ainda é incrivelmente barata pelos padrões ocidentais: menos de US$ 1 por quatro litros. 

Em torno de 40% da frota de veículos iraniana está adaptada para o gás natural. Mas o planejamento de longo prazo foi desigual, especialmente em relação aos postos de abastecimento. Às vezes, a fila de um posto de gás natural tem um tempo mínimo de espera de duas horas. 

O Irã tem 1.262 veículos por posto de abastecimento, comparados com 856 veículos por posto no Paquistão, o segundo país em número de veículos movidos a gás natural, de acordo com um relatório da revista "The Economist" de julho. 

Reza Zandi, especialista em petróleo e gás, culpa o mau planejamento da cadeia de fornecimento de gás natural. "A construção de postos de gás natural está atrasada e não temos o know-how para construir motores mais eficientes para os carros de fabricação nacional." 

Hamid-Reza Samadian, estudante de informática, estava em uma das principais avenidas de Teerã e observava os carros parados em um cruzamento próximo, soltando fumaça. "Se não tivéssemos o gás natural, acho que a poluição seria muito pior." 

THOMAS ERDBRINK
DO "NEW YORK TIMES" 


Publicado no Folha Uol

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